TEATRO DE QUALIDADE EM ARARUNA

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“No palco tinha uma pedra, tinha uma pedra no Palco...”
O ator com alunos de teatro da UEPB-Araruna e com o Poeta Jairo Lima

Monólogo escrito, dirigido e encenado por grande ator paraibano é apresentado na UEPB dentro da programação da II Semana de Folclore do campus. O espetáculo agradou ao grande público que lotou o auditório da universidade, porém ao final, com toda autoridade quanto conhecedor de palcos e teatros do Brasil inteiro que tem Fernando Teixeira, o mesmo perguntou: “Por que botaram essa “pedra” no meio do palco?!”

O texto nos presenteia com excelente quebra da linha de raciocínio que, ao mesmo tempo, funciona como desconstrução e construção. Temos em cena um velho homem sem camisa, com calça amassada e sapato. Ele conta sobre estar comendo um pedaço de carne, quando de repente é surpreendido por alguém que o fita atentamente. Corre e se esconde numa caverna até que resolve voar para observar do alto a movimentação. É quando percebemos que há algo ali que nos levará a outra dimensão que, de todo modo, não será certa até que seja usada uma palavra: urubu. Fernando Teixeira é um abutre capturado por um homem que condiciona-o a dançar em cima de uma lata para ganhar dinheiro pelas cidades. Esparrela conta a curiosa história da relação entre dois seres, que não deixam de ser simultaneamente caçadores, passando a ser outra coisa no curso da história.

o espetáculo é de proximidade. Passa pela cômico encantando a plateia com a doçura que Teixeira traz a um abutre, tal qual pelo trágico reiterando a força narrativa e poética do texto do autor. Esparrela, em toda sua originalidade, certamente já apresenta-se como atemporal e universal, mesmo que vez ou outra pontuada naturalmente por certa regionalidade. Não são, entretanto, marcas que impessam que a interpretação seja eficiente aqui ou noutros lugares. É sobre o humano, relações de uso, honra mútua e dependência que o espetáculo fala.
Em meio a um texto que é tão passível de ser permeado por clichês de algum desejo simbólico excessivo na pré-produção, Teixeira soube podar. Talvez ainda falte mais: algumas pouquíssimas falas ainda são permeadas por pretensão que interrompe sutilmente a imersão narrativa.
Esparrela é sobre certa independência que, na verdade, é construída na dependência e na relação com o outro. Sua crítica é sobre que tipo de relação é essa; se temos agido como abutres com os que nos cercam ou como seres que, nas construções do cotidiano interelacional, encontram os canais ideais para moldar-se e  reconstruir-se para o que há de vir. “Como o ferro com o ferro se afia, assim, o homem, ao seu amigo”, diria o sábio Salomão.

Ricardo Oliveira (http://diversita.blog.br/blog/2009/04/20/esparrela-fernando-2009/)

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